Dedico essa carta, a Joaquim Maria Machado de Assis, o maior escritor brasileiro de todos os tempos. Neste espaço, vou falar da genialidade de quem, nascido em condições adversas — um menino negro, pobre e gago, tornou-se o fundador da Academia Brasileira de Letras e revolucionou a literatura nacional. É claro que se você tem um escritor brasileiro que é referência, vou ficar satisfeito com sua indicação.
Bem, mais do que conhecer suas obras, passear e se inspirar em Machado é um processo construtivo. Como ele mesmo escreveu em Esaú e Jacó:
"A vocação é o mais íntimo e o mais indeclinável dos impulsos."
Esta carta nasceu da convicção de que todos podemos encontrar prazer no ato de escrever, mesmo sem ambições profissionais imediatas. Afinal, todos precisamos nos comunicar melhor, e nada mais prático que aprender com boas referências.
Então, pegue seu caderno, prepare sua caneta, quanto mais anotação, mais repertório você terá.
Machado de Assis é reconhecido por seu realismo psicológico — uma abordagem que visita a alma humana, revelando contradições, vaidades e hipocrisias. Seu narrador frequentemente conversa com o leitor, quebrando a quarta parede em um estilo que era revolucionário para sua época.
"A vida é um jogo em que pouco se aprende e muito se arrisca."
— Memórias Póstumas de Brás Cubas
Essa habilidade de dissecar a psicologia humana com ironia sutil e profundidade filosófica é o que torna Machado tão atual, mesmo mais de um século após sua morte. Ele escrevia não apenas para entreter, mas para provocar reflexão.
"Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver dedico como saudosa lembrança estas memórias póstumas."
Este início inusitado, narrado por um defunto demonstra a ousadia de Machado em romper convenções literárias. A ironia está presente já na dedicatória e passeia por toda a obra.
"A hesitação, meu caro, é indispensável em tais casos. É a mãe da segurança."
Nesta obra-prima da literatura mundial, Machado constrói uma narrativa sobre ciúme, memória e verdade que ainda hoje divide opiniões: Capitu traiu ou não Bentinho? O autor nunca responde diretamente, deixando ao leitor a tarefa de julgar.
"Humanitas é o princípio. Há nas cousas todas certa substância recôndita e idêntica, um princípio único, universal, eterno, comum, indivisível e indestrutível."
O Humanitismo, filosofia fictícia criada por Machado nesta obra, é uma sátira aos sistemas filosóficos deterministas da época, mostrando como o autor usava a literatura para criticar as ideias predominantes de seu tempo.
Aqui um ponto me chama a atenção e vou compartilhar com você: com todas a tecnologia fornecida, ferramentas que já ultrapassam a capacidade de que, possamos dominar, a escrita manual de Machado, ainda é fresca, atual.
Machado foi e ainda é um escritor que abordou temas delicados, criou fantasia e traduziu a realidade de maneira ímpar. É impossível você leitor não ter conhecido alguma de suas obras, contudo se não conhece, essa é a hora de buscar por um dos livros que ele nos deixou.
Bem, falar de todo o trabalho deixaria essa carta longa demais, e não posso confirmar que todos leriam, ou leria? Me conte para eu produzir uma carta com os livros mais conhecidos, você gostaria?
Aqui, não é somente um espaço teórico, não foi criado com essa finalidade é bem mais que isso, por esse motivo, o que apliquei pode ser útil para você também, vamos lá:
1. Observe o cotidiano com olhar crítico.
Machado transformava cenas banais em reflexões profundas. Tente observar uma conversa ou situação comum e anotar detalhes que passariam despercebidos. Não fique preocupado com a gramática, apenas descreva o que seus olhos e ouvidos estão presenciando.
2. Fale com o leitor
Experimente escrever como se estivesse conversando diretamente com quem lê, incluindo perguntas retóricas e comentários diretos, como: "Não me acreditas, leitor?"
Entendeu essa dica? Ela vai mudar sua relação com os textos.
3. Use a ironia de forma sutil
A ironia machadiana não é explícita, mas um leve tom que permeia o texto. Pratique descrições aparentemente elogiosas que, nas entrelinhas, carregam críticas sutis. Nesse quesito uma amiga me disse que realizo " Elofensas".
4. Escreva sem compromisso
Dedique 10 minutos diários à escrita livre, sem se preocupar com perfeição. Machado também começou como um escritor romântico convencional antes de encontrar seu estilo único.
5. Inspire-se no estilo de Machado para escrever um parágrafo curto.
Escolha um objeto comum do seu dia a dia e descreva-o como se fosse um personagem, dando-lhe características humanas e psicológicas. Lembre-se de incluir um toque de ironia e, se possível, dirigir-se diretamente ao leitor.
Após as dicas, e posso afirmar que funcionam, acredito que você fará uma pesquisa sobre nosso autor para me dar alguns relatos, não é mesmo?
Falar sobre autores é um grande exercício de pesquisa, fique com mais um trecho que honestamente é motivo para uma boa reflexão.
"Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria." — Memórias Póstumas de Brás Cubas
Esta frase reflete o pessimismo irônico tão característico de Machado, mas também nos lembra que, através de sua literatura, ele deixou um legado — não de miséria, mas de riqueza literária que continua inspirando gerações. Espero ter trazido você até aqui sem pular ou adiantar a carta até o fim.
Acredito que qualquer inteligência possa criar textos, histórias, contos ou narrativas, mas também acredito que elas precisam vir do emocional e não do artificial. Dedique tempo para melhorar sua comunicação escrita, nem tudo deve vir de um atalho, uma ferramenta externa, abuse do que você tem de melhor: o cérebro.
O que mais me encanta em Machado de Assis é a sutileza. 🤌
Ele faz o leitor tropeçar nas entrelinhas, duvidar do narrador, desconfiar do que parece óbvio…
É como se nos convidasse a olhar de novo, mas com outros olhos. Genial!
Belo texto, amigo.